domingo, 17 de fevereiro de 2013

Letras chocantes

Ontem a minha afilhada, de quatro anos, pôs-me a ouvir um CD com a seguinte história cantada: «Às vezes é difícil encontrar a felicidade / mas temos de acreditar que existe essa possibilidade». Não sei se a letra é mais traumatizante para a idade dela, se para a minha.

Adenda

A velha do supermercado que desprezava todo o mundo achava que, para Portugal voltar a entrar nos eixos, as coisas tinham de dar uma volta «de 200 graus!». (Estaria a pensar meter aquela gente toda no forno?).

Odisseia no supermercado

Pingo doce, último dia do ano e último dia antes da subida generalizada dos preços. Quando chego, já não há carrinhos nem cestinhos para pôr as compras, pelo que carrego os meus pobres haveres nos sacos da própria loja, aqueles que levarei, depois, para casa. 

Por todo o lado, como diria o outro, «o expoente máximo da loucura»: o povo a açambarcar o que pode como se não houvesse amanhã (e, de certa forma, não há). Enquanto espero numa fila gigantesca, aproveito para me inteirar dos pormenores do casamento secreto da fadista mariza, mas rapidamente percebo que, lá à frente, nas inatingíveis caixas, se passam coisas bem mais interessantes que nas revistas de cusquices.


Segundo me contou o senhor da frente, com detalhe e sem que eu lhe tenha pedido, alguns membros de um grande clã cigano que andava às compras no supermercado tentaram passar pela caixa com uma grande quantidade de bens «não declarados». A tentativa de gamanço não passou despercebida aos polícias (sim, polícias, nem eram seguranças) que por aí andavam e os detiveram prontamente. Gritos, choros, emoção. Isto podia ter ficado por aqui, não fosse a mulher atrás de mim encetar um monólogo em que, basicamente, se insurgia contra todo o mundo.


Sem a ver e só com base no seu discurso, dei-lhe uns 270 anos, mas quando finalmente a vislumbrei, percebi que não devia ter mais de 50. Sempre sozinha, falava como quem dialoga consigo mesmo: «ACABOU O TEMPO DOS EMIGRANTES E DA ESQUERDA!» era um dos seus slogans favoritos, que repetia como um refrão de cantiga. Mas não se riam, que sobrava para todos: os «maricas» que deviam ser «deportados»; os estrangeiros, que «nem são portugueses nem europeus», a voltar já para as suas terras; os não alfacinhas de volta à província, também. «Muitos dos que aqui estão nem são do Sul, DA CAPITAL! São lá da parvalheira do norte», dizia, com asco. Não faltou, naturalmente, um dos meus lugares-comuns favoritos - «por isso é que este país não anda para a frente» - nem um desejo forte de que toda «esta maralha» abandonasse a cidade e o país, deixando-a naturalmente sozinha em casa, com os ratos (que gente deste calibre nem um gatito deve ter).


Ainda tive esperança, mas nem o facto de a empregada da caixa - que por seu turno se ria da agitação dos «assaltos» - ser negra estancou a verborreia da mulher. Enquanto eu voltava a meter as minhas compras nos sacos, a pequenita fábrica de ódio pagou o único artigo que levava: um saquinho de uvas passas (seriam nacionais?), por 1 euro e 29 cêntimos. Aposto que todos os seus 12 desejos serão contra alguém.


Em tempos que já lá vão tinha-me virado para trás e pedido à mulher que apresentasse o certificado de pureza étnica (o que quer que isso possa ser num país destes), mas se há coisa que a idade me ensinou a valorizar é a integridade física. Lá fora, uma das ciganas dizia ao polícia que ele não lhe podia «bateriiiiii», enquanto o que parecia ser o chefe do clã tentava ir-se embora, desejando ao agente «um feliz ano!» e dando-lhe pancadinhas nas costas. Quando vim embora estava a chegar um carro da polícia. Só tenho pena que, quando fazem os anúncios do pingo doce, nunca apanhem estes dias de festa.

Higiene pessoal

Numa destas manhãs sorridentes de sol, vou a descer a rua de banhinho tomado e a boa disposição de quem acha que vai tudo correr bem, quando, à porta de um restaurante-tasca, um homem vem à porta e exulta: ESTÁ UM DIA MARAVILHOSO!, antes de mandar uma gigantesca e ruidosa escarradela para o meio da rua.

Egoísta ou egocêntrico?

Hoje, no café, o Homem da Tertúlias fazia ver, de forma bastante indignada, que a sua interlocutora estava enganada quanto a uma série de conceitos. Ela queria separar o egoísmo de alguns traços de personalidade vizinhos (individualismo, egocentrismo) e o homem perdeu a calma, exclamando que «há indivíduos de um grande egocentrismo que se odeiam a si mesmos, nem se podem ver ao espelho!». A mulher desistiu e foi-se embora enquanto o homem dizia «mas se a sua ciência lhe diz outra coisa...» * faz sinalefas estranhas com as mãos * «... Se eu tivesse um guizo na cabeça, já tinha dado duas voltas!». Quando acabou a frase e respectivo gesticular, já ela ia a caminho da porta, o que roubou todo o efeito dramático à coisa. E lá ficou o Homem das Tertúlias sozinho com o suplemento Vidas do Correio da Manhã.

Falar com o cão

Ouvido hoje de manhã, de passagem. #1 (Entre dois velhotes) «... 87 anos, um gajo quer lugar no cemitério e não arranja...». #2 (Entre duas mulheres que ainda não teriam 40 anos): «... Éramos uma série de raparigas e andava sempre um bando de rapazes atrás, claro. Se eu soubesse o que sei hoje... o meu marido não sai de casa para nada, nem para tomar uma bica, raispartó homem». Contou ainda como, à conta do marido anti-social, perdeu todos os amigos e até a família, e como hoje já só fala com a mãe, o cão e às vezes os filhos. «Por isso enfio-me no facebook e falo pelos cotovelos com toda a gente», concluiu."

Elo mais louro

Na final do Elo Mais Fraco: como se chama a filha da actriz Goldie Hawn? Resposta: Whoopi Goldberg!