sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A coisa mais bonita dos últimos tempos

Quando saí do autocarro chuviscava com alguma insistência e abri o guarda-chuva para o percurso até ao restaurante onde combinara encontrar-me com a minha amiga e vizinha. O que se passou a partir do momento em que me limitei a dar boleia de chuço a um velhote com ar meio perdido desafia a minha memória e capacidade narrativa, mas aqui fica o meu melhor e mais honesto esforço de partilhar a historieta (arquivar em «esta semana está a ser ainda mais esquisita que o normal»).

- É melhor o senhor vir para este lado, para ficar abrigado.
- Muito obrigado! sabe que a minha mãe sempre me ensinou que as crianças e as mulheres deviam ir do lado de dentro...
- Pois, antigamente usava-se... para protegê-las...
- A minha mãe foi freira. Foi freira até casar, aos 36 anos. Fepois teve a minha irmã, que faleceu, e abortou por três vezes. eu nasci quando a minha mãe já tinha 43 anos. Ela era uma mulher de força, signo carneiro! Sem desprezo para as outras pessoas que não são. Mas sabe que eu sempre convivi muito com mulheres e sei que elas têm um sexto sentido, uma intuição. A minha tia teve 10 meninas e um rapaz, eu conheço muito bem o universo feminino. E a minha mãe sempre me ensinou a diferença entre tratar alguém por tu e por você. «Tu» traz maior intimidade, mas também mais responsabilidade. Oorque uma coisa é liberdade, outra libertinagem.
- (...)
- A menina, posso dizer, é muito novinha, mas tem uns valores muito fortes, que os seus pais com certeza lhe passaram. E aquilo que me fez [dar boleia de chuço, recorde-se] deixou-me arrasado, no bom sentido. Foi muito especial! a menina é muito novinha, não é?
- Erm, não...
- Vai nos 28, talvez?
- ... Faço 35 anos este ano...
- [leva mão à cabeça] Meu Deus! Mas é de que ano? 78? Não pode ser! E olhe que as morenas fortes [ :D ] ficam muito carregadas com a idade. Mas a menina não é morena trigueira, é leite com uma pinguinha de café. E também não é forte!, é miudinha de osso mas cheiinha.

Ainda fiquei a saber o nome e a localidade do senhor antónio pereira matos, que tinha na Astrologia um dos seus hobbies («eu também tenho uma amiga gémeos e já sei que ela de vez em quando leva tudo à frente, não é por maldade»; «eu sou leão, fogo, e o fogo sem o oxigénio não pode arder!») e na poesia de Florbela Espanca e Fernando Pessoa outro. Depois de me tentar esquivar por várias vezes (e a amiga à espera), lá me deixou partir, assegurando por diversas vezes, e pareceu-me que com convicção, que este episódio foi uma das coisas mais bonitas que lhe aconteceram nos últimos anos.

Acho que me saiu o jackpot.

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