domingo, 17 de fevereiro de 2013
Letras chocantes
Ontem a minha afilhada, de quatro anos, pôs-me a ouvir um CD com a seguinte história cantada: «Às vezes é difícil encontrar a felicidade / mas temos de acreditar que existe essa possibilidade». Não sei se a letra é mais traumatizante para a idade dela, se para a minha.
Adenda
A velha do supermercado que desprezava todo o mundo achava que, para Portugal voltar a entrar nos eixos, as coisas tinham de dar uma volta «de 200 graus!». (Estaria a pensar meter aquela gente toda no forno?).
Odisseia no supermercado
Pingo doce, último dia do ano e último dia antes da subida generalizada dos preços. Quando chego, já não há carrinhos nem cestinhos para pôr as compras, pelo que carrego os meus pobres haveres nos sacos da própria loja, aqueles que levarei, depois, para casa.
Por todo o lado, como diria o outro, «o expoente máximo da loucura»: o povo a açambarcar o que pode como se não houvesse amanhã (e, de certa forma, não há). Enquanto espero numa fila gigantesca, aproveito para me inteirar dos pormenores do casamento secreto da fadista mariza, mas rapidamente percebo que, lá à frente, nas inatingíveis caixas, se passam coisas bem mais interessantes que nas revistas de cusquices.
Segundo me contou o senhor da frente, com detalhe e sem que eu lhe tenha pedido, alguns membros de um grande clã cigano que andava às compras no supermercado tentaram passar pela caixa com uma grande quantidade de bens «não declarados». A tentativa de gamanço não passou despercebida aos polícias (sim, polícias, nem eram seguranças) que por aí andavam e os detiveram prontamente. Gritos, choros, emoção. Isto podia ter ficado por aqui, não fosse a mulher atrás de mim encetar um monólogo em que, basicamente, se insurgia contra todo o mundo.
Sem a ver e só com base no seu discurso, dei-lhe uns 270 anos, mas quando finalmente a vislumbrei, percebi que não devia ter mais de 50. Sempre sozinha, falava como quem dialoga consigo mesmo: «ACABOU O TEMPO DOS EMIGRANTES E DA ESQUERDA!» era um dos seus slogans favoritos, que repetia como um refrão de cantiga. Mas não se riam, que sobrava para todos: os «maricas» que deviam ser «deportados»; os estrangeiros, que «nem são portugueses nem europeus», a voltar já para as suas terras; os não alfacinhas de volta à província, também. «Muitos dos que aqui estão nem são do Sul, DA CAPITAL! São lá da parvalheira do norte», dizia, com asco. Não faltou, naturalmente, um dos meus lugares-comuns favoritos - «por isso é que este país não anda para a frente» - nem um desejo forte de que toda «esta maralha» abandonasse a cidade e o país, deixando-a naturalmente sozinha em casa, com os ratos (que gente deste calibre nem um gatito deve ter).
Ainda tive esperança, mas nem o facto de a empregada da caixa - que por seu turno se ria da agitação dos «assaltos» - ser negra estancou a verborreia da mulher. Enquanto eu voltava a meter as minhas compras nos sacos, a pequenita fábrica de ódio pagou o único artigo que levava: um saquinho de uvas passas (seriam nacionais?), por 1 euro e 29 cêntimos. Aposto que todos os seus 12 desejos serão contra alguém.
Em tempos que já lá vão tinha-me virado para trás e pedido à mulher que apresentasse o certificado de pureza étnica (o que quer que isso possa ser num país destes), mas se há coisa que a idade me ensinou a valorizar é a integridade física. Lá fora, uma das ciganas dizia ao polícia que ele não lhe podia «bateriiiiii», enquanto o que parecia ser o chefe do clã tentava ir-se embora, desejando ao agente «um feliz ano!» e dando-lhe pancadinhas nas costas. Quando vim embora estava a chegar um carro da polícia. Só tenho pena que, quando fazem os anúncios do pingo doce, nunca apanhem estes dias de festa.
Por todo o lado, como diria o outro, «o expoente máximo da loucura»: o povo a açambarcar o que pode como se não houvesse amanhã (e, de certa forma, não há). Enquanto espero numa fila gigantesca, aproveito para me inteirar dos pormenores do casamento secreto da fadista mariza, mas rapidamente percebo que, lá à frente, nas inatingíveis caixas, se passam coisas bem mais interessantes que nas revistas de cusquices.
Segundo me contou o senhor da frente, com detalhe e sem que eu lhe tenha pedido, alguns membros de um grande clã cigano que andava às compras no supermercado tentaram passar pela caixa com uma grande quantidade de bens «não declarados». A tentativa de gamanço não passou despercebida aos polícias (sim, polícias, nem eram seguranças) que por aí andavam e os detiveram prontamente. Gritos, choros, emoção. Isto podia ter ficado por aqui, não fosse a mulher atrás de mim encetar um monólogo em que, basicamente, se insurgia contra todo o mundo.
Sem a ver e só com base no seu discurso, dei-lhe uns 270 anos, mas quando finalmente a vislumbrei, percebi que não devia ter mais de 50. Sempre sozinha, falava como quem dialoga consigo mesmo: «ACABOU O TEMPO DOS EMIGRANTES E DA ESQUERDA!» era um dos seus slogans favoritos, que repetia como um refrão de cantiga. Mas não se riam, que sobrava para todos: os «maricas» que deviam ser «deportados»; os estrangeiros, que «nem são portugueses nem europeus», a voltar já para as suas terras; os não alfacinhas de volta à província, também. «Muitos dos que aqui estão nem são do Sul, DA CAPITAL! São lá da parvalheira do norte», dizia, com asco. Não faltou, naturalmente, um dos meus lugares-comuns favoritos - «por isso é que este país não anda para a frente» - nem um desejo forte de que toda «esta maralha» abandonasse a cidade e o país, deixando-a naturalmente sozinha em casa, com os ratos (que gente deste calibre nem um gatito deve ter).
Ainda tive esperança, mas nem o facto de a empregada da caixa - que por seu turno se ria da agitação dos «assaltos» - ser negra estancou a verborreia da mulher. Enquanto eu voltava a meter as minhas compras nos sacos, a pequenita fábrica de ódio pagou o único artigo que levava: um saquinho de uvas passas (seriam nacionais?), por 1 euro e 29 cêntimos. Aposto que todos os seus 12 desejos serão contra alguém.
Em tempos que já lá vão tinha-me virado para trás e pedido à mulher que apresentasse o certificado de pureza étnica (o que quer que isso possa ser num país destes), mas se há coisa que a idade me ensinou a valorizar é a integridade física. Lá fora, uma das ciganas dizia ao polícia que ele não lhe podia «bateriiiiii», enquanto o que parecia ser o chefe do clã tentava ir-se embora, desejando ao agente «um feliz ano!» e dando-lhe pancadinhas nas costas. Quando vim embora estava a chegar um carro da polícia. Só tenho pena que, quando fazem os anúncios do pingo doce, nunca apanhem estes dias de festa.
Etiquetas:
benfica,
caos,
gente cheia de raiva,
racismo,
supermercado,
velhos
Higiene pessoal
Numa destas manhãs sorridentes de sol, vou a descer a rua de banhinho tomado e a boa disposição de quem acha que vai tudo correr bem, quando, à porta de um restaurante-tasca, um homem vem à porta e exulta: ESTÁ UM DIA MARAVILHOSO!, antes de mandar uma gigantesca e ruidosa escarradela para o meio da rua.
Egoísta ou egocêntrico?
Hoje, no café, o Homem da Tertúlias fazia ver, de forma bastante indignada, que a sua interlocutora estava enganada quanto a uma série de conceitos. Ela queria separar o egoísmo de alguns traços de personalidade vizinhos (individualismo, egocentrismo) e o homem perdeu a calma, exclamando que «há indivíduos de um grande egocentrismo que se odeiam a si mesmos, nem se podem ver ao espelho!». A mulher desistiu e foi-se embora enquanto o homem dizia «mas se a sua ciência lhe diz outra coisa...» * faz sinalefas estranhas com as mãos * «... Se eu tivesse um guizo na cabeça, já tinha dado duas voltas!». Quando acabou a frase e respectivo gesticular, já ela ia a caminho da porta, o que roubou todo o efeito dramático à coisa. E lá ficou o Homem das Tertúlias sozinho com o suplemento Vidas do Correio da Manhã.
Falar com o cão
Ouvido hoje de manhã, de passagem. #1 (Entre dois velhotes) «... 87 anos, um gajo quer lugar no cemitério e não arranja...». #2 (Entre duas mulheres que ainda não teriam 40 anos): «... Éramos uma série de raparigas e andava sempre um bando de rapazes atrás, claro. Se eu soubesse o que sei hoje... o meu marido não sai de casa para nada, nem para tomar uma bica, raispartó homem». Contou ainda como, à conta do marido anti-social, perdeu todos os amigos e até a família, e como hoje já só fala com a mãe, o cão e às vezes os filhos. «Por isso enfio-me no facebook e falo pelos cotovelos com toda a gente», concluiu."
Etiquetas:
cães,
cemitério,
facebook,
se eu soubesse o que sei hoje
Elo mais louro
Na final do Elo Mais Fraco: como se chama a filha da actriz Goldie Hawn? Resposta: Whoopi Goldberg!
Roupa interior
"Não é nada fio dental, isso é só um fio! É tanga, o que eu queria comprar eram tangas! Acabou-se, não lhe compro mais nada a ela, só a ti", discute uma velha ao telemóvel, no metro.
Etiquetas:
demasiada informação,
metro,
velhas assanhadas
Anger management
Comentários na internet, parte 273: «Vocês que fiquem por cá a cavar ainda mais o buraco e espero que caiam todos dentro dele, seus vermes satânicos!!
Barriga de freira
O Elo Mais Fraco, sempre a cutucar questões socialmente fracturantes: «O que é uma barriga de freira?». Resposta: «Uma barriga de aluguer».
Conflito de gerações
Ontem na paragem: um rapaz explicava à mãe, usando interjeições como méne, todos os contornos de transferências, reais e hipotéticas, de jogadores do Benfica. Sem dentes, a mulher contrapunha à descrição dos talentos dos atletas comentários como "ele tem cara de ser bom rapazinho".
Suicídio aparatoso
Dois minutos numa paragem em Algés e já sei que quem se mandou ontem para a linha do comboio foi um rapaz de 28 anos. O homem que dá a notícia ao amigo diz que, se fosse ele, tomava antes comprimidos; o seu interlocutor, que com ele partilha um cigarro, compreende e defende estes suicídios mais vistosos
Vet zen
Depois de ouvir um veterinário bastante eloquente e quase zen a descrever a riqueza nutritiva do alimento ideal de um gato - «tem as patas, tem as vísceras, as orelhas, os olhos!» - sinto-me tentada a mandar a ração gourmet às urtigas e ir para o quintal caçar ratos para o Farrusco.
Um lanche formidábel
Ontem, numa daquelas reportagens sobre os velhotes que temem morrer sozinhos em casa, uma senhora do Porto contou a sua história com um palavreado tão rico e tão ternurento que só me apeteceu dar-lhe um abracinho e verter duas ou três lagrimitas por, daqui a uns anos, já não termos ninguém a falar de forma tão personalizada (iá, tipe). Cito de cor, ou seja, não foi bem assim, mas foi mais ou menos: «Oh menina, eu fui LAMBAREIRA. Antes de ir para a cama apeteceu-me comer um lanche FORMIDÁBEL. Comi doces! Comi chocolates! Fiz SEMELHANTE mistura que...» (segue-se descrição do desarranjo que do lanche formidábel resultou).
Super-mitras
Casal de super-mitras, donos de um total de sete dentes putrefactos, tem discussão conjugal em Algés. Ele, com um blusão a dizer «Jamaica» nas costas, anda de volta dela. Ela estrebucha - «não prestas para nada!», o grito a ecoar pelo túnel da estação - e acusa-o de lhe ter batido por mais de uma vez. «À terceira vais para a choldra!». Incapazes de chegar a um consenso, continuam aos berros até que chega a hora da complicada divisão de bens: ele quer que ela descalce as botas, que garante serem dele. Nisto tudo, de quem tive mais pena foi do cãozito cerdoso que, atrapalhado com a discussão e sem saber quem defender, andava de roda dos dois trastes, a abanar a cauda amigavelmente.
Partir a boca
Hoje é o dia do mitra; à saída do metro do Colombo, grunhe um de boné ao telefone: "Eu não tenho medo de ninguém. O teu pai quer merda comigo? Ele que venha, que eu PARTO-LHE A BOCA TODA.
Amor passageiro
"Mas o que é que eu vi nele? Ele não é assim tão giro... Realmente, o amor é cego", conclui uma moça em conversa com amiga, no café. Chegou ao fim, a paixão, quando ela foi ao Facebook do rapaz, na quinta à noite, e o viu numa foto de festa "rodeado de labregos, com uma cerveja na mão e a barba toda mal feita, buééé de barba aqui", explica, horrorizada, passando a mão pela cara. Contente com o discernimento que, pelos vistos, tardava em chegar, a amiga deu-lhe um passou-bem e disse-lhe "parabéns, ganhaste a minha consideração".
Namorar em Algés
Pregão de Dia dos Namorados da florista de Algés: "Andam sozinhas porque querem!".
Alemanha e a guerra
O Elo Mais Fraco, reescrevendo a história em tons de cor-de-rosa. «A Alemanha participou na Segunda Guerra Mundial?». «Não»
Chinês benfiquista
Quando fui à loja do chinês comprar para uma amiga uma mala em que a Nossa Senhora é uma Princesa da Disney, trouxe também um calendário do Sporting para a minha Mãe, que anda desgostosa por estarmos quase em Março e não ter um. "É do Sporting?", pergunta-me o moço chinês. "Não, a minha Mãe é que é e anda triste por não ter calendário deste ano". Não sei como, disto o rapaz consegue perceber que eu sou do Benfica e desata num desabafo sem fim: "Eu sou como a menina! Ontem à noite muito triste! Equipa não passa bola, não sei que se passa este ano! Muito triste! Mas Real Madrid também perde! Barcelona também perde!". E é isto a minha vida.
Tratamento por você
Criança histérica a recitar freneticamente passagens de livros (?) de aventuras (quem raio são o professor Dawson e a Yasmine?) e a tratar o pai por você a bordo de comboio que partiu com 20 minutos de atraso: irritação ao cubo.
Etiquetas:
canalhada,
comboios,
tratar os pais por você
Casino dos pobres
Não sei como é que ainda não (?) se fez uma reportagem sobre o flagelo das raspadinhas junto dos velhotes. Sempre que vou comprar o passe à «casa da sorte» ao fundo da minha rua, vejo, da minha fila, a azáfama na fila paralela: hordas de velhos e velhas tentam a sua sorte, desbaratando moeditas de 1 e 2 euros numa variedade incrível - e que eu desconhecia por completo - de raspadinhas (simples, ilustradas, com prémios modestos ou exorbitantes, etc). Depois, com vergonha do fracasso ou medo que os outros velhos vejam quanto lhes saiu, metem o cartão no bolso e vão raspá-lo para outro lado. É uma espécie de casino dos pobres e púdicos, aquela casa."
Etiquetas:
benfica,
casino dos pobres,
raspadinhas,
velhos
Não sou eu, és tu
Motorista da camioneta falando ao telemóvel (com auricular), enquanto conduzia, esta manhã: "Tou-te a ser sincero!! Já não quero saber de ti... Para nada!!".
Revisor precisa-se
O prato do dia no pingo doce, hoje, é bifinhos com cogomelos ou bacalhau á casa (assim mesmo, tudo escrito em papel).
Compra-me uma taluda
O senhor da CP que pediu para passar à minha frente no multibanco levantou dinheiro para entregar a uma colega, a quem encomendou o seguinte: "lotaria nacional! Não te esqueças, é lotaria nacional!
Operação impossível
«Eu tive um em que o testículo não saía!», conversa na camioneta sobre operações de castração a cães.
Prescrever
Comentários da internet, #851: leitor 1 diz-se triste com notícia. Leitor 2 quer dizer que concorda, e por isso escreve um desolado: «prescrevo».
Bombando
Gerações em alegre convívio ao fim da tarde. Rapaz meio mitra da mercearia pergunta a velho que se aproxima vagarosamente, de bóina e bengala: "Então, essa Feira do Relógio, no Domingo, bombou?".
Bifes de dois metros e meio
Gosto muito das pessoas que, ao fim da tarde, vão no autocarro, ou até no metro, a contar a sua vida toda ao telefone. Gosto um bocadinho menos quando vou meio enjoada, como aconteceu hoje. com calor (!) e dores de barriga, só ouvia conversas cruzadas, de diferentes passageiros: «... olha, eu só quero este mês chegue ao fim», desabafava uma senhora atrás de mim. «... É um animal, e fez-me aquilo. eu é que tenho de resolver a situação, eu resolvo sempre as minhas situações», dizia, sofrida, a velhota à minha frente. E depois, claro, chegou o homem barrigudo que sabia mais que os médicos («eu sou médico!», repetia) e descreveu as alterações do seu suco gástrico e os seus planos de comer menos e o restaurante onde por 12,5 euros se podem comer bifes «de dois metros e meio» e tive de mudar de lugar para o bem do meu próprio suco gástrico.
Todos os friques são pardos
De noite todos os friques são pardos: "Vai pedir à Misericórdia! Mas eu é que te sustento? Sempre a mesma coisa!", grita uma mulher na rua, para rapaziada de ar espantado. "Mas... Quem é que me pediu dinheiro?", apercebe-se ela. "Não foi aquela? Ai, julgava...".
Tipo lol
Miúdas a meu lado no metro falam "daquele stripper de blazer branco", de soutiens manchados que tiveram de ser lavados com lixívia e de pessoas que fazem comentários como "ah... lol!".
Despedir o patrão
Pelo senhor jardineiro que esta manhã tratava do quintal lá do prédio: "Bom trabalho para a menina também. Mas olhe, não trabalhe muito, que isto não está bom para isso! Quanto mais trabalhamos, mais nos descontam. Eu é que já despedi o meu patrão. Já vou para os 80 anos - oxalá a menina também chegue lá. Nasci em 33 e trabalhei 39 anos na Alves Ribeiro!". Nisto chegou uma velhota que entabulou conversa com ele - "hoje é aqui?" - e eu aproveitei para vir embora, que a conversa estava boa mas fazia-se tarde.
Os jornais que há
Esta manhã, uma senhora não sabe "que jornais há". A senhora da banca dá uma ajuda: "O Correio da Manhã fala de tudo, de forma geral. Depois há o Público e o Diário de Notícias". A mulher levou o CM.
Tininha
"Oh Tininha mas eu não sou como tu, oh Tininha a mim quem mas faz paga-mas, oh Tininha...". Pessoas aos berros ao telefone no comboio, antes de eu ter tomado café = doloroso.
Meter o pé na poça
Começar o dia a meter o pé na argola em grande estilo. Esta manhã, velha chega cheia de energia à paragem da camioneta e pergunta a velho que lá está sentado, toda animada: «Então! Está bom? Como vai a sua senhora?». O velho responde qualquer coisa que não ouço, num sussurro. Mulher: AIIIII, JÁ MORREU? AAAAAHHH EU NÃO SABIA! (é tão bom quando não é a nós que estas coisas acontecem)."
Paga tu
No autocarro: miúda que vai para a praia garante ao revisor que não vai pagar multa por seguir sem bilhete ou passe (ou documento de identificação). Ri-se da maquia que o o pica lhe diz que tem de pagar (3 dígitos) e diz à amiga que vai escrever uma carta a contestar a multa, dizendo que a mãe está desempregada. "E é por isso que também não vou comprar bilhete de comboio", remata.
Dobrar meias
Vai aqui uma mulher no autocarro a contar ao telefone que os trastes dos três filhos (acho que são filhos) levantam-se às três da tarde só para lhe sujar roupa ("o cabrão vai-me andar de bicicleta para o cu de Judas e vem-me com a t-shirt cheia de óleo"; "tenho de lavar as camisas porque o outro fuma que nem um desgraçado e vem sempre a cheirar a tabaco") e dizer que não gostam da comida, obrigando-a a fazer outros pratos. Estou com pena dela: diz que às vezes está "uma hora a dobrar meias", e isso não se deseja a ninguém.
Cavalheiro mitra
"Vais sentar-te? Se fosses, eu dava-te o lugar, como cavalheiro que sou!", disse-me esta manhã um mitra no autocarro. Antes, ele e o amigo tinham estado a discutir as melhores carreiras: o 28 parecia recolher a preferência da dupla, por estar "cheio de bifes".
Senhora das pernas aleijadas
"Traz um para mim! Diz que é para a senhora das pernas aleijadas, que eles sabem quem é!", berra mulher de ligaduras nas pernas para as amigas que vão todas lampeiras buscar os iogurtes que duas meninas vestidas de gregas estão a oferecer na estação. O café low cost do pingo doce no Cais do Sodré dava um livro, e nem é preciso ficar lá mais de meia hora.
Metro à noite
"Uma migalha de caridade para me auxiliar. Alguém fumador que me dê um cigarro", é o pregão resignado do cego mais conhecido e ritmado do metro de Lisboa a esta hora.
Do Apocalipse
Vinha eu no autocarro cheia de sacos quando uma senhora toda vestida de branco, com chapéu de palha a condizer, deixa cair um saquito ao chão. Eu, que sou uma simpatia, apanhei-lhe o livro: chamava-se Estudo do Apocalipse.
Drogadito amoroso
Drogadito muito podre com figura de Cristo ao pescoço vai a dar lições de como tratar de plantas a senhora que leva uma trepadeira ao colo, no metro. "Mas é tigrada ou tricolor? É questão de cortar o último rebento! Eu adoro plantas, não tenho é paciência para tratar delas todos os dias". A mulher nem respira.
A melhor coisa que alguma vez encontrei na internet
«Esta árvore tem quinze anos e chama-se magnoreiro ou nespereira.
A nespereira foi dada por um colega de trabalho ao meu tio Alfredo mas ele não a quis plantar e deu-a ao meu pai. O meu pai plantou-a.
A árvore cresceu mas durante muitos anos não deu frutos. Uma pessoa disse então ao meu pai para na noite de Carnaval dar-lhe uma coça com um pau e o meu pai deu-lhe uma coça que até a casca esfolou… A partir daí a nespereira começou a dar fruto.
Daniela Andreia Ribeiro Rocha, n.º 12 | 7.º B»
A árvore cresceu mas durante muitos anos não deu frutos. Uma pessoa disse então ao meu pai para na noite de Carnaval dar-lhe uma coça com um pau e o meu pai deu-lhe uma coça que até a casca esfolou… A partir daí a nespereira começou a dar fruto.
Daniela Andreia Ribeiro Rocha, n.º 12 | 7.º B»
Rimando por aí
Paragens de autocarro a esta hora: velhas de gorro & sacos a lamuriar e a rimar - "Ai, que vida esta, que não presta!".
Todos os dois
Conversas fascinantes no autocarro. Começa com um "tu tens de te mentalizar que o Vodafone preto que te dei já não é meu, é teu. São todos teus, todos os dois!", passa por "Mas eu nunca me interesso por ninguém por dinheiro, Alda!" e acaba com "então desejo-te Boa Páscoa, que já vai atrasada".
Descrições de valor
A meu lado no metro, um rapaz feminino qb diz a uma amiga: "... Tem o maxilar assim forte, os olhos bué definidos, umas sobrancelhas... engraçadas". E eu que costumo limitar-me a dizer se as pessoas são altas ou baixas e têm cabelo escuro ou claro.
Sorte à força
No Marquês, um bando de ciganas tenta ler, à força, a sina de quem passa. A mim perseguem-me duas mulheres, uma das quais me agarra pela manga do kispo e roga: "Deixa-me ler-te a sina, que não cobro nada! Deixa-me ler-te a sina, que não tens tido sorte!".
Da virgindade
A cabeleireira chamou "virgens" aos meus cabelos.
Trabalho infantil
Mais um episódio patético do meu quotidiano (se o Chico me pedisse com jeitinho podia considerar escrever «Cotidiano»): ontem regressava do supermercado com quatro sacos bastante pesados e, como tal, ia parando de quando em vez, para recuperar o fôlego. Lá perto de casa, voltei a pôr os sacos no chão e, por segundos, a cabeça para baixo. Quando volto a levantar os olhos para retomar caminho, tenho uma velha com o neto pela mão, ambos a olharem para mim boquiabertos. E diz o miúdo, que não havia de ter mais de 6 ou 7 anitos, cheio de piedade da anciã: «Quer ajuda?».
Muito euro
Velhos que dizem o saldo da sua conta em altos berros, frente ao multibanco: ♥ (9042 euros)
Pugilismo
Falar de ouvido, #87: «... Eu não sou pugilista (apologista) dessas coisas...».
Incensos
Velho desabafa à porta de loja: "Para mim aquilo cheira bem, mas ela não gosta de incenso...". Responde velha, prontamente: "Eu de alguns CENSOS também não gosto! Alguns até parece que me fazem mal ao nariz!".
Touradas
Na paragem, uma velha afoita diz a outra: "Fica aqui que eu vou ver quem está [ou não na fila], para depois não haver touradas". Depois sentam-se e riem-se tal e qual como Mutley, o cão.
Propostas indecentes
Acabo de receber um mail com uma "proposta de intervista".
Homem das Tertúlias, com Afecto
No café do costume, amigo do Homem das Tertúlias canta "Com Açúcar e Afeto" para a empregada brasileira. E, como Homem das Tertúlias não conhece, ainda recita um pouco da letra do "Pedro Pedreiro", para ilustrar criatividade "daquela gente".
Playboy com Photoshop
"E viva o Photoshop", diz alto e com ar de desprezo uma rapariga para o rapaz que a acompanha, depois de analisar de perto, na montra da papelaria, a capa da Playboy com a Rita Pereira.
Reciclar plástico
"Se é para deitar fora, eu aproveito!". E foi assim que uma velhota me ficou com as rolhas das garrafas de água que fui pôr na reciclagem.
Revista in Rio
No autocarro do Rock in Rio: três rapazes que falam como se fossem actrizes de revista infestam autocarro com perfume que cheira a insecticida, enquanto se queixam histericamente da demora da partida ("Ai eu tou-me a passar! Vai lá perguntar quando é que sai", ordenam a uma amiga). Mais tarde, falarão de um relógio "giríssimo" que custa três mil euros.
Mesmo taxista
Apanhei o mesmo taxista (simpático) em duas noites consecutivas. O homem vai tão entusiasmado com a coincidência que, num semáforo, até berrou para um colega: em tantos anos é a primeira vez que me acontece! Pena ir a ouvir Pólo Norte, credo
Canários doidos
"Tenho lá uma canária que anda doida para fazer ninho!", conversas de lojas de animais, #3.
Smoke, bitches!
"Porque é que não há bichas fumadoras? I'm so fucked!", dizem miúdos que cravam cigarros à porta dos armazéns do Chiado. "Smoke, bitches!", incentivam ainda.
Temos de ser uns para os outros
Na semana passada, apanhei como sempre o 750 até Algés. A conduzir a viatura do demo ia uma mulher, que como os seus congéneres masculinos fez o autocarro levantar voo e aterrar com grande estrondo ao passar ali num buraco lendário, antes da estação dos comboios. E, ao chegarmos a Algés, fez uma travagem que ia atirando uns quantos passageiros ao chão. Nada que, infelizmente, não aconteça quase todos os dias, mas uma mulher à minha frente ia cheia de vontade de chingá-la («eu nunca vi ninguém conduzir tão mal», etc), procurando a minha anuência. E, na travagem final, não se coibiu de concluir, quase triunfal: POR ISTO É QUE AS MULHERES SÃO TÃO MAL VISTAS! Apeteceu-me dizer-lhe o mesmo a ela.
Comboio para a praia
Miúdas no comboio para a praia: gritam, berram, berram, gritam; maquilham-se usando o telefone como espelho; borrifam perfume pela carruagem e discutem, sempre com os decibéis no máximo, quem é guineense e quem deixa de ser. A líder (fala ainda mais alto que as outras), esguia e de cabelo muito curto, bate ocasionalmente no único rapaz do grupo, enquanto pragueja. O tipo não reage nem se faz ouvir.
Corrector ortográfico
Ei oh lia my lide mesa os rigor now: não entendo como há quem não goste do corrector ortográfico.
O comer
Velhas passando por montras de lojas em Benfica: "Está mais barata a roupa que o comer!".
Etiquetas:
benfica,
o preço a que as coisas estão,
velhos
O Quim Barreiros de cá
Sobre concertos em Inglaterra, miúdos comentam na ZdB: "Lá, os Mumford and Sons são o Quim Barreiros de cá!".
Dor de coração
Da série "há sempre quem esteja pior que nós/não exageras nada": "Estive toda a tarde deitada com dores no coração!", diz velha para empregado do café.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Céu muito nublado
Raça: adolescente
Autocarro cheio de adolescentes que vão em visita de estudo a algum lado. A meu lado, e ignorando velhos como eu que seguem de pé, miúdas mascam chicla de boca aberta. Às tantas desabafa uma: "Estou farta de ir aqui sentada. Já me dói a peida". * balão de chicla *
A promoção do Pingo Doce
O taxista que me trouxe a casa já tem tudo planeado: na próxima promoção da loja que a gente sabe, vai para lá acampar mal largue o táxi - às quatro da manhã. Que isto é uma grande ajuda para o povo e o Jerónimo Martins é um homem inteligentíssimo e «mas diga-me, quem é que não gasta 300 e 400 euros numa ida ao supermercado?». Também pretende aproveitar para levar para casa coisas que geralmente não compra, como queijo da serra e queijinhos da ilha, porque com o desconto de 50% já compensa. E é que nem sequer podem acusá-los de bamby! «Desculpe?» «Bambin». «Erm, não sei...». «Aquilo de que os estão a acusar!». «Ah, dumping!». «Isso!».
Algés clássico
Algés clássico: homem adulto e fardado com calções e camisa tipo escuteiro sai do autocarro muito determinado e desata a soprar freneticamente num pequeno apito, enquanto caminha ligeirinho. Na outra mão leva um saco de plástico e uma varita de madeira.
Ao lado
De que Michael é o disco «Heal the World», de 1992? Bublé!
Eu vi o meu futuro
Fui à loja de animais em hora de ponta: sábado "de manhã", cinco minutos antes de fechar (e cinco minutos depois de tomar banho). À minha frente, uma velhota leva areia e comida de gato; penso que estava, também, a encomendar algo, ou a pedir para pagar mais tarde, pois o rapaz novo que a atendia ficou com o seu nome e morada. "Mas a senhora não mudou de nome desde a última vez, pois não? É a Dona Isabel, é ou não é?", dizia ele, risonho, naquele tipo de falso flirt que deixa as velhas todas lisonjeadas e contentes. Deve ser para estas situações que se inventou a expressão "Eu vi o meu futuro, e...".
Mitragem esperta
Dois mitras saem do beco ao fundo da minha rua e eu surpreendo-me com o seu palavreado. "Circulação intravenosa, sabes o que é?", pergunta um. O outro murmura qualquer coisa. "Até parece que não sabes o que é... Metes cavalo para lá todos os dias!".
A maluca da Fátima
A paragem está cheia de gente exaltada. Duas velhas falam sobre uma tal de "maluca da Fátima" que está "farta se fornicar" com um sobrinho dela, parece-me.
Temas & assuntos
Os assuntos dos mails que tenho na caixa de entrada do gmail às vezes assustam-me ou, pelo menos, intrigam-me. Assim de seguida: o jogo da mala / roupeiro / adopção de um chimpazé por uma cadelinha / arranjaste a visão? / obrigada, compadres / filhotes do rei da selva.
Concursos de TV
Eu juro que nem estava a ouvir com atenção. «Em que país nasceu Caetano Veloso?» Portugal! (Mas depois soube fazer a «coreografia» do Teló). «De quem é o êxito Love Me Tender?» Whitney Houston! E ainda: «Como se chama a um natural de Torres Vedras?». Torres Vedreeensre.
Longa distância
A rapariga que vai a meu lado no Intercidades, a ler um livro sobre as calorias dos legumes crus vs cozidos, esqueceu-se de pôr desodorisante.
Ordem na estação
Eu sabia que a polícia estava na estação de Algés para alguma coisa: nomeadamente para admoestar rapaz que passa no túnel de bicicleta. Ele pára quando ouve o apito e os senhores agentes lhe dizem que não pode passar ali sob rodas."Mas eu vou já sair por ali...", tenta ele, apontando para fim do túnel, metros à frente. "Tem de ir a pé!". E lá foi ele, revirando os olhos e arrastando a bicicleta pela mão. Ordem reposta na estação, portanto.
Fazer amigos
Fazer amigos com facilidade, #27. «Assine aí e ponha a data», diz o homem que veio cá a casa tratar dos pormenores do pulguicídio que aí vem. eu: «Ai, enganei-me, escrevi a minha data de aniversário!». «Não me diga que faz anos hoje!». Fiz anteontem... «Eu fiz ontem e a minha mãe também faz a 27!», exulta o Senhor Dias. :D
Verbos lindos
Ouvido ontem, ao fim da tarde na baixa lisboeta: "É naquela rua que ziguezagueia!". Isto enquanto as andorinhas zinzilulavam. ♥
Stevie Wonder
"Não sabia que o homem era cego!", revelações no bus do Rock in Rio, após concerto do Stevie Wonder.
Homem das Tertúlias
Ontem no café, o homem das tertúlias recebeu a visita de um adolescente, filho de um seu comparsa. O miúdo falava pouco e muito baixinho, enquanto o guru fazia as despesas da conversa. "Já tenho um livro para aquilo que me perguntaste. É uma edição dos anos 80 de um livro do século XVIII, o papel já se está a esboroar, mas encomendei o pdf". "Mas eu queria era sobre out of body experiences, não era sobre sonhos", corrige o jovenzito. O homem das palestras lança-se então numa longa dissertação sobre o assunto, repetindo amiúde: "Tens de tratar muito bem da tua vida física para poderes ter o direito de entrar no mundo espiritual!".
Armas e segurança
Lido hoje nas chaves do Areeiro: "Transporte a sua espingarda em segurança".
Mães de Portugal
Ouvido de esguelha ao passar por uma loja: "Também não é para mandarem rapaz abaixo da maneira que mandaram!", diz senhora indignada. Mães de Portugal, sempre a cuidar dos pobres e desvalidos como o Ronaldo.
Quenga na reforma
Passar uma entrevista feita numa esplanada em Benfica: ouvir quase tão bem como o entrevistado a conversa de um velhos no engate (argh), na mesa ao lado. «NÃO PRECISA DE SILICONE, NÃO PRECISA!», berra o homenzinho para aquela que, tudo indica, será uma quenga na reforma (receptora a simpatia generalizada da população sénior do bairro).
Etiquetas:
benfica,
entrevistas,
laboro,
quenga na reforma,
velhos
Autocarro a grasnar
Durante algumas paragens convenci-me que alguém no 50 levava um pato a grasnar. Afinal, são mesmo as entranhas do autocarro a dar de si.
Abutres sorridentes
Acabo de receber um mail intitulado «O sorriso menstruado dos abutres». Sinto algum medo.
Vestidos com segundas intenções
Conversas telefónicas ouvidas de esguelha, #83. «... Ela de vestido também fica com um ar mais de menina. Não é só por causa do calor que ela anda a vesti-los...».
Super Cola 3
ET phone home. Está tudo bem? "Sim, vamos ao Pingo Doce comprar tremoços". O cão está bom? "Sim, já lhe conseguimos tirar a Super Cola Três do focinho".
Um pouco de decêndio
Comentários na internet, #63: «Bando de retrogrades (...). Tenham mais respeito e decêndio pelas pessoas».
Al Qaeda
Mastigar a placa
Velho todo encostado a mim e a mastigar a placa: love my life, e ainda mais estes transportes públicos.
Mood swings
A instalar o Skype, deparo-me com agrado com esta opção: «alterar a minha disposição». Vou pôr para estar sempre bem-disposta.
Stayin' Alive
Etiquetas:
benfica,
moda terceira idade,
música na cidade,
velhos
Consulta cancelada
E é por isto que gosto dos velhotes. Esta manhã, a sic fazia uma reportagem sobre a greve dos médicos, entrevistando utentes no hospital São José. Pacífico, um velhote dizia que, apesar da greve, ia ter consulta, mas que o ministro devia lembrar-se que, tal como os pacientes, é um cidadão e havia de comportar-se em conformidade. Segundos depois, percebendo que, afinal, a consulta tinha sido cancelada, exclama: «E agora vou para a casa! Até posso morrer [que para eles é igual]. QUEM DEVIA MORRER ERA O MINISTRO!», perante a aflição da repórter, que prontamente lhe cortou o pio, dizendo «... pronto, não vamos usar essa linguagem».
Árvore das batatas
Outro dia na camioneta uma senhora perguntou ao amigo se ele este ano ia para as vindimas. Ele, triste, disse que já não havia vindimas na sua terra. A mulher começa então a lamentar que «a juventude», hoje, não queira saber da terra e não perceba nada do assunto. Eu achei que ela estava a exagerar até que ela ilustra: «... outro dia o meu filho disse que levava um pau para apanharmos as batatas. ele achava que as batatas cresciam em árvores!».
Montanha-russa
Acabo de levar uma cotovelada pior que qualquer do Alive - no sobrelotado autocarro 750, onde pessoal que vai para a praia (muitos sem banho tomado) se digladiam por lugar . Também há um grupo de passageiros que grita como se estivesse na montanha-russa de cada vez que o bus pára, arranca ou existe. Temperatura a bordo: 60 graus celsius.
Rimas bonitas
Pior rima de sempre, que me fez rir na zona de alimentação do festival: «Se gostas de Radiohead / A tua sandes aqui pede».
Domador de rolas
Coisas que só acontecem em Paço de Arcos, terra de rolas: este senhor apanhou uma rola ferida do chão, na estação. Eu meti conversa, a ver se não lhe ia fazer mal. Que nada: ia levá-lá para a capoeira e pô-la com as galinhas, porque me dá pena estes animais, e tenho lá em casa um chau chau de 14 anos, e só não tenho mais animais porque não posso, outro dia até andava um cão perdido na rotunda, e no ano passado tive de mandar abater um pincher, a minha mulher e a minha filha fartaram-se de chorar. Agora tenho um gato e uma gata que são da vizinha mas preferem estar lá em casa, a miúda compra-lhes granulado e vai pô-los a casa à noite.
Jornal pago
Eu com jornal pousado a meu lado, no comboio, e senhora vem perguntar-me: «Posso levar?». Explico que não, que é meu. Fica com cara de «não entendi». «Erm, é meu, comprei-o...». Outra vez carita de «oi?». «Não é grátis», tento eu uma última vez. Afastou-se com expressão facial de «olha a cabra egoísta». Temo que o conceito de jornal pago já seja estranho para muita gente.
Unha humana
Depois da unha humana no banco do comboio, umas collants (usadas?) no autocarro. * suspiro *
Etiquetas:
autocarro,
collants,
comboios,
transportes,
unhas nos transportes
O estado em que este homem está
Até meio do caminho vem bem caladinho. Até que o Jorge Palma irrompe por dueto com brasileiro adentro e taxista comenta: «... esta letra é bonita, é muito bonita, mesmo. Mas... O QUE É ISTO? Você já viu o estado em que este homem está? Já nem canta, ele fala! Olhe agora, olhe agora!», alertava-me, com o conhecimento de causa de quem ouve a mesma estação de rádio todo o santo dia. Aliás, a seu ver, a Comercial está «muito boa», apesar de repetir muito as músicas e as rubricas. aproveitei para me armar e dizer que sou amiga da famosa Ana Martins - «é gira e tem piada», avaliou ele - e acabámos a corrida a falar da antiga equipa da Rádio Energia, na qual ele tem muitos amigos.
Etiquetas:
amigos,
música na cidade,
rádio,
táxis,
taxistas simpáticos
Cavalos de Cascais
Frases ouvidas na linha de Cascais: "Eu estive a pensar e é assim, o senhor não vai guardar o cavalo tanto tempo para o Bernardo!".
Goucha e Malato
Surrealismo de fim de tarde, via velhas no bus: "Aquela mulher que diz que é mulher do Malato fez uma pergunta ao Goucha no facebook...".
Conversas em casa
"- Quem também morreu foi o marido da Gininha.
- O que não tinha um braço?
- Ele tinha braços!
- Tinha?
- Tinha, tinha braços e pernas!".
- O que não tinha um braço?
- Ele tinha braços!
- Tinha?
- Tinha, tinha braços e pernas!".
Hospital privado
No hospital privado: rede de wifi de senhora de apelido Debonnaire, música de Vampire Weekend e Manic Street Prachers, crianças brincam com ipads e velhas têm sacos da Gant. Esperei hora e meia depois da hora marcada, mas nada de doutor House. :(
Psicóloga de taxistas
«E eu ia distraído a falar com o cliente e ultrapassei os 80. Depois a multa foi para o meu patrão mas sabe que se pode fazer uma prova de pobreza? Fui à junta e disse que tenho 70 anos, estou reformado mas tenho mulher e duas netas a meu "encargo". Da primeira multa livrei-me, da segunda não sei - porque depois houve outra, também porque me distraí a falar com um cliente. Nas eu só ganho 300 euros de reforma! A mulher da junta de campo grande até disse à minha mulher: o seu marido ainda acelera, ahahah! Esta foto é de uma das minhas netas, uma faz 6 anos a 1 de outubro e outra é em janeiro. Tenho de pôr aqui a foto da outra, também. Às vezes chamo a esta "meu amor" e a outra diz-me: a mim não me chamas amor!». A psicóloga dos taxistas, episódio #31
Peço desculpa
Octogenárias que nos põem no nosso lugar: chego a casa e a Dona Conceição, porteira do prédio de três andares onde vivo, cumprimenta-me. "Então, menina Lia, está boa?". "Sim, cansada!", respondo. "Eu também", diz ela, de vassoura na mão, "que estive a lavar as escadas de alto a baixo... Este mês a mulher-a-dias não vem!".
O meu nome é...
Fazer compras no Corte Inglês: "Então aqui tem o seu talão de troca, Senhorita Isabel...".
Sabedoria popular
"Os trapos ainda duram muito tempo, agora a comida leva o dinheiro todo e não dura nada" - ouvido de relance na paragem.
Ortografia alternativa
Depois de a minha irmã dizer que um cliente no banco soletrou uma palavra dizendo "O, de homem...", hoje no autocarro ouvi uma mulher berrando ao telefone: "Com E, de igreja!".
Ter extrutura
Reparei no continente do Colombo que funcionários da caixa têm ao seu dispor um documento com "extrutura mercadológica" do estabelecimento.
Gatos
Na fila das chaves do Areeiro, senhora comenta com filho que a seguir tem de ir à farmácia, embora não saiba onde é. Eu explico-lhe e miúdo berra logo, para embaraço da mãe: "É que o meu pai está doente! Sabes que eu tenho 5 anos? E chamo-me Diogo!". "Muito prazer, eu sou a Lia", digo eu. "Lia?", pergunta a mãe. "Eu tive uma gata chamada Lia!". E é isto a minha vida.
Casais unidos
Aqui no café: mulher comenta com amiga que sua avó teve 24 filhos e que nesse tempo "casais eram mais felizes e mais unidos". Lembrou-me uma velhinha que ontem vi no telejornal, elogiando o marido de 50 anos: "Foi sempre muito meu amigo: nunca me bateu, não me tratava mal...".
Etiquetas:
antigamente é que era bom,
café,
casais unidos,
família,
velhos
Nossa Senhora do Piri-Piri
Uma carinha de gente num peito de frango! Ou então os efeitos secundários do Griponal incluem alucinações.
Etiquetas:
alucinações,
aparições,
frango assado,
griponal
Paradigmas
Hoje no bus: rapariga à minha frente liga para alguém em casa pedindo-lhe que dê "o comprimido ao cão" ("mas cuidado que ele esconde-o de lado, com dentes"), velhotas atrás de mim comentam "o extraordinário artigo que saiu ontem no El País" (a sério) e o "novo paradigma" que o mesmo encerra.
UMMM, UMMM
Outro dia no Pingo Doce: um senhor cigano andava às compras pelo supermercado com a mulher, o filho e um saco de gelo colado à cara (segurava-o com a mão, não com cola), aparentemente para sarar alguma ferida recente. Como pelos vistos a dor era tanta que nem falar conseguia, quando o miúdo fazia asneira ou desaparecia da sua vista, o homem urrava: UMMMMM! UMMMMM! na sua direcção, isto dos corredores até à caixa.
Limão
Cafés de Benfica, #42. Em fuga do psicopata do Nilo, encontro no Lua de Mel o atencioso distraído: "Quer uma Frize Limão? Mas de sabores?".
Quando o Sporting ganhava campeonatos
Hoje na Casa da Sorte, à espera de comprar o passe: velhas à minha frente na conversa com empregado da loja atrasam andamento da fila. Ao ir embora, uma delas manda carimbo ao chão. «Este carimbo ainda é do tempo em que o Sporting ganhava campeonatos!», justifica-se o senhor do balcão, que perde algum tempo a tentar pôr aquela bodega a funcionar outra vez.
Outra das velhotas, quem sabe se emocionada com o momento, engana-se e, em vez de dar o passe ao homem, passa-lhe o cartão do Minipreço ou coisa que o valha. «Uma vez, nunca mais me esquece, um senhor deu-me o cartão do clube de pescadores de não sei onde», lembra-se o nosso herói, «e depois ficava muito chateado por eu não querer carregá-lo: "Mas todos o carregam!". ele tinha um amor por aquele cartão!».
Mas o mais bonito ainda foi o outro funcionário ter de desligar a música - a Alicia Keys a berrar «Neeeewwww Yooooorrrk» - porque um velhote da fila ao lado (a das raspadinhas, negócio paralelo da Casa da Sorte e espécie de casino dos idosos de Benfica) era mouco de todo e nem sequer ouvia o preço a pagar (oito! OITO!).
Outra das velhotas, quem sabe se emocionada com o momento, engana-se e, em vez de dar o passe ao homem, passa-lhe o cartão do Minipreço ou coisa que o valha. «Uma vez, nunca mais me esquece, um senhor deu-me o cartão do clube de pescadores de não sei onde», lembra-se o nosso herói, «e depois ficava muito chateado por eu não querer carregá-lo: "Mas todos o carregam!". ele tinha um amor por aquele cartão!».
Mas o mais bonito ainda foi o outro funcionário ter de desligar a música - a Alicia Keys a berrar «Neeeewwww Yooooorrrk» - porque um velhote da fila ao lado (a das raspadinhas, negócio paralelo da Casa da Sorte e espécie de casino dos idosos de Benfica) era mouco de todo e nem sequer ouvia o preço a pagar (oito! OITO!).
Etiquetas:
bola,
casa da sorte,
futebol,
música na cidade,
passe,
raspadinhas
Adormecer
Mulher ao telefone na paragem da Vimeca: "Que eu também já não estou a aguentar este horário! Toda a gente na 'câmbra' sabe que eu tenho este problema... de adormecer!".
Voltar de férias
Três semanas sem vir à redacção: acho que estou a ver mal as letras no ecrã do computador e, durante segundo e meio, penso em pôr os óculos de sol para remediar a situação.
Simply the best
Ainda não apaguei metade dos mails, mas este parece-me spam de categoria: «Apodere-se dos movimentos de Tina Turner».
Fado de Benfica
"Bom dia, boa gente!", exclama, ao entrar na camioneta, velhote barrigudo. "Se me enganei peço desculpa!". Depois ainda cantou ao modo faduncho, falou do Benfica e insultou comunistas ("São como os caracóis: poucos, porcos e venenosos"). Ninguém lhe dava troco, mas é claro que não saí da camioneta sem ouvir um "o Salazar faz cá muita falta".
Preço Certo
Sinais do fim do mundo: «O Preço Certo também já enjoa!», concluem velhas à conversa sobre programação televisiva, no autocarro.
Monte
Histórias trágicas, daquelas que se escutam no elevador do trabalho, com uma lágrima de comoção ao canto do olho: «No Alentejo só apanhei um dia de mau tempo. Estava vento. Nem saí do monte!».
Etiquetas:
conversa de elevador,
laboro,
luta de classes
Internetes
Rede de wifi que apanho no autocarro: "penico".
Diz que disse
Rapariga repreende amiga junto aos legumes do Pingo Doce: "Aquilo que tu dizes que não disseste, tu disseste! Não disseste, mas pensaste, e é a mesma coisa. Não é a mesma coisa, mas...". Ontem à noite na rua, mocita em grupo de jovens: "Eu não entendi aquela coisa das fufas!".
Entranhas a sério
«Pessoas com entranhas verdadeiras», diz um padre de Lamego num especial da RTP sobre a cidade,
Oh menina
Tive a bela ideia de ir à lavandaria buscar um edredon que já lá tinha há mais de uma semana, sob o calor escaldante de um meio-dia de Setembro. Voltar para casa abraçado ao dito (é demasiado grande para transportá-lo da outra forma) ajudou-me, obviamente, a fazer uma linda figura de urso. Todos o terão pensado, mas só uma velha, ao passar por mim, exclamou, ao mesmo tempo que me dava um toquezinho solidário na anca: OH MENINA, TÃO CARREGADA E COM ESTE CALOR!
Tribos urbanas
Desfilando ao fundo da minha rua, um a seguir ao outro: miúda gótica/emo com t-shirt de Iron Maiden (!); rapaz com t-shirt de Red Hot Chili Peppers. Só falta aparecer o rapazito que às vezes vejo no bus, com a sua lágrima desenhada na cara em tons de vermelho-sangue, para compôr o retrato.
Olá, jovem
Abordagens curiosas para me pedirem dinheiro para "uma campanha", na rua: "OLÁ JOVEM! TÁS BOA?".
Transporte de gado
Deve haver gado transportado com mais cuidado e carinho que nosotros, passageiros do autocarro 750.
É Deus que te fala
Vou ao multibanco fazer uma "boa acção" e encontro 20 cêntimos no chão (sim, essa fortuna toda). Segundos depois, deixo cair, com estrondo, o iPhone ao chão de cimento. Que estará Deus a querer dizer-me?
Querida Paula
"Lia? Então é portuguesa e não tem um nome português? Eu não sou e tenho!". Assim começou a minha conversa com a cabeleireira Paula, romena que me pôs o cabelo em ordem para o casamento desta tarde (ignorando, coitada, o caos em que ele já vai estar daqui a nada). Num português perfeito, lá me foi contando que veio para Portugal há dez anos, tinha 16, e foi por cá que tirou o curso, ganhou a sua "independência" e casou (com outro romeno; têm um filho de dois anos, Kevin, que fala Português e só quer ver o Panda, e uma Andreia a caminho). Também me disse que, além de Português e Romeno, fala bem Inglês e Espanhol, além de entender Francês e dar uns toques de Russo, porque as colegas são uma da Ucrânia, outra da Moldávia. Eu, que fico sempre espantada com a facilidade e a rapidez com que esta gente aprende a falar Português, perguntei-lhe como tinha conseguido: "Oh, ouço as pessoas, repito, e se elas me corrigirem eu digo melhor".
Claro que a minha parte favorita foi mesmo quando a Paula, dez anos de Portugal, me pergunta: mas a Lia não é de Lisboa, pois não? Eu, que ainda pouco tinha falado, confirmo que não. "Ah, vi logo - pelo 'acento'. É que eu já tive um namorado do Porto".
Claro que a minha parte favorita foi mesmo quando a Paula, dez anos de Portugal, me pergunta: mas a Lia não é de Lisboa, pois não? Eu, que ainda pouco tinha falado, confirmo que não. "Ah, vi logo - pelo 'acento'. É que eu já tive um namorado do Porto".
Etiquetas:
cabeleireiro,
cabelo,
imigrantes,
porto,
sotaque
Orbital
Aquele instante da noite em que não percebo se o PIII PIII III insistente é do pisca do táxi ou da música da Rádio Orbital (era da música).
Polícia brincando
Estação de Algés: polícia diverte-se, algemando na brincadeira a senhora do quiosque. Ela ri-se.
Crianças geniais
Depois de, sobre as touradas, dizer «é feio, não se faz e não quero ver», a propósito da campanha do Mitt Romney pronunciou-se da seguinte forma: «O que é que aqueles maus estão ali a fazer?». Apresento-vos a minha nova comentadora favorita: Raquel Gonçalves, cinco anos em Novembro.
Cães histéricos
Ainda na senda dos e-mails inspirados, numa mensagem recebida agora mesmo, amiga descreve assim o estado da sua cadela: «Está tão histérica como o povo a ver os XX em cima dos caixotes do lixo no Alive!».
Palmadinhas de amor
... entretanto, enquanto esperávamos para entrar na sala do concerto, o homem à nossa frente não se cansava de acariciar e dar pequenas palmaditas no rabo da mulher que o acompanhava. De vez em quando, para desenjoar, fazia-lhe uma festinha na cabeça (como quem faz uma festa a um cão, diga-se), mas a mãozinha voltava sempre ao lugar do crime, o rabo coberto por uma pequena saia amarela. Esteve nisto que tempos, e ela nada.
Anúncio honesto
Etiquetas:
anúncios de casas,
anúncios honestos,
benfica
Não há nada...
Hipérboles da publicidade, #45: "Não há nada como a sensação de cabelo cortado".
A Esmeralda
Pessoas que falam alto nos transportes de manhã, #528. "A ESMERALDA, AINDA ESTÁ COM A PANCA?".
Da cultura
Uma pessoa tenta cultivar-se mas, quando faz pesquisa por livros de Fiama Hasse, o site da fnac faz auto-complete com Hasselhof.
Sô Doutor
No autocarro para casa um homem fala ao telefone com "o doutor". "Desculpe incomodar a esta hora, doutor", repete com subserviência. Tem uma voz completamente esganiçada, vulgo de cana rachada, que provoca um misto de pena e vontade de rir. Uma destas acentua-se quando pergunta, entusiasmado e naquele seu timbre aflautado: "E a sua passagem de ano foi boa, doutor? Eu passei a minha no Parque Mayer!".
Manhã submersa
Um quase acidente frente ao canil de Monsanto, uma mulher que não pára de praguejar sozinha desde que entrou no autocarro ("Quer cagar caga em casa, caga no nariz dos outros"), comunicações misteriosas e via rádio entre o condutor desta barcaça e o de outras. É só mais um dia a bordo do 750.
Carne estranha
Descobertas infantis no balcão de carne do supermercado: "Mãe, a carne de boi tem olhos!".
Evita compromissos
Passando por duas velhas na rua ouço a seguinte conversa (feliz ou infelizmente não percebi ao que se referiam):
- Olhe, descontrai, evita compromissos...
- Às vezes é melhor que sexo!
- Olhe, descontrai, evita compromissos...
- Às vezes é melhor que sexo!
A droga
«É como os rapazes com a droga: eu mal me levanto penso logo em vir à rua tomar café». Minha porteira, 90 anos, a espalhar alegria logo pela manhã
Bom Rapaz
"Sei quem ele é, ele é bom rapaz, um pouco tímido até...", canta num estilo algo livre o rapaz de boné ao contrário que vai sentado a meu lado no autocarro.
Etiquetas:
autocarro,
bom rapaz,
mitras,
música nos transportes
729 sádico
Tem de haver qualquer coisa de sádico num motorista que, tendo os futuros passageiros todos a apanhar uma molha valente numa paragem sem cobertura, vai fumar o seu cigarrinho descansado (e abrigado) e, quando volta, se enfia na viatura DE PORTA FECHADA, mexendo estupidamente em botões à toa, como se esta porcaria fosse uma nave especial e não o 729.
Etiquetas:
729,
autocarro,
inverno,
motoristas sádicos
Falar estrangeiro
Às vezes sinto um arrepio de frio espinha acima, como se andasse alguém a caminhar na minha campa. Depois olho para a televisão e é o Durão Barroso a falar inglês, naqueles separadores da SIC Notícias.
Calhau Sem Olhos
Rapariga ofegante no autocarro, depois de atravessar Marquês a correr, descreve ao telefone o que tem vestido para combater frio. "Mas quando cheguei à aula de Chinês tive de despir logo", ressalva. Depois da descrição de um colega de Setúbal e do seu divertido sotaque local, partilha que amanhã é o dia de anos do Calhau Sem Olhos. "Que queres, posso não casar ou ter filhos com ele, mas nunca hei-de esquecê-lo, por muitos anos que viva". Ou de como o eterno feminino não foi apenas um programa da Teresa Guilherme.
Etiquetas:
746,
autocarro,
eterno feminino,
marquês do pombal,
telefonemas
Spare a Square
"Ai obrigada, estou para aqui irritada, de rabo alçado, agarrada ao rolo!". Ou de como hoje ajudei uma senhora no WC de trabalho, num episódio ao género do "spare a square", do Seinfeld.
Candidate-se
Não querendo fazer pouco de quem procura trabalho, talvez enviar «candidaturas eXpontâneas» para mim não seja a melhor solução.
Sozinha na cidade
Típico: vou distraída e engano-me na terceira linha de metro. Já sem tempo, saio e apanho táxi. Menos típico: já depois de lhe pagar, taxista decide levar-me (de graça) até mais perto de onde ele acha que deve ser a sala. Parece preocupado. Ainda melhor: "a menina quer ir onde?», indaga um polícia, mais à frente. "Eu levo-a lá que isto aqui há muitos toxicodependentes". E assim fez.
Exkrever axim
A mania de escrever com «x» a torto e direito não é nada comparando com o que eu vi ontem: uma clínica (de verdade, aparentemente) com o nome (oficial! escancarado na fachada!) de «klínika». Aposto que morreram três andorinhas no japão, quando eu vi isso.
O homem da gaita
Homem encarapuçado afina gaita de foles (?) contra a parede, no Marquês. Mais uma noite normal na cidade, siga.
Dias úteis
« (Atendo o telefone, ouço barulheira de fundo) Estou a falar para o jornal Blitz?
- Para a revista Blitz, sim.
- Pois, neste caso revista. Olhe, é assim: eu não tenho computador porque o vendi...
- Sim...
- ... mas estou aqui no vosso blogue (!) e é assim: a minha mãe tem 60 anos e eu 46 (!!)...
- OK...
- E eu gosto de Rolling Stones desde que me conheço e preciso de saber: quantos anos tem o Mick Jagger? A minha mãe diz que ele tem 60 e tal e eu digo que ele já tem 74 ou 75!
- Dê-me só um bocadinho... [vai à wiki]
- OLHE QUE É UMA GRANDE APOSTA QUE ESTÁ EM JOGO!
- Pois, eu não sei quem vai ganhar, mas o Mick Jagger tem 69 anos.
(Gritos de VITÓRIA! de fundo).
- Cala-te senão a senhora [eu] não ouve! Olhe, e já agora, o Keith Richards?».
Há dias mais úteis que outros.
- Para a revista Blitz, sim.
- Pois, neste caso revista. Olhe, é assim: eu não tenho computador porque o vendi...
- Sim...
- ... mas estou aqui no vosso blogue (!) e é assim: a minha mãe tem 60 anos e eu 46 (!!)...
- OK...
- E eu gosto de Rolling Stones desde que me conheço e preciso de saber: quantos anos tem o Mick Jagger? A minha mãe diz que ele tem 60 e tal e eu digo que ele já tem 74 ou 75!
- Dê-me só um bocadinho... [vai à wiki]
- OLHE QUE É UMA GRANDE APOSTA QUE ESTÁ EM JOGO!
- Pois, eu não sei quem vai ganhar, mas o Mick Jagger tem 69 anos.
(Gritos de VITÓRIA! de fundo).
- Cala-te senão a senhora [eu] não ouve! Olhe, e já agora, o Keith Richards?».
Há dias mais úteis que outros.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Tony de Matos, por taxista de Argoncilhe
Da colecção de coisas que se aprendem com os taxistas: o Tony de Matos fumava cinco maços de tabaco por dia. Fumou e cantou até ao dia em que morreu. Um homem extraordinário, fora de série. Conhecido como «o cantor latino», muitos tentam, ainda hoje, imitá-lo - sem sucesso. Mais: os espanhóis «que entram aqui no carro» gostam do Real mas não gostam do Ronaldo. Ele é um vaidoso, não presta. E é maluco se pensa que tem a categoria do Messi. Os Loureiros afundaram o Boavista e o Linhares, que «já lá está», o Salgueiros. Isto e muito mais por um conterrâneo do André Gomes: Argoncilhe é a terra do senhor que me trouxe a casa - e esperou que eu entrasse no prédio, que isto não são horas - mas que trocou pelo Porto aos 11 anos, altura em que começou a trabalhar. Depois da tropa veio «passear» para Lisboa e não se arrepende, porque tem trabalho e «vai tendo» saúde. Só a maçaneta das velocidades é que o patrão insiste em não arranjar. Aparte isso e os camiões do lixo que o impedem de depositar em casa «os clientes, tão tarde e ainda por cima tanto frio», tudo jóia.
(Novembro 2010)
(Novembro 2010)
Etiquetas:
argoncilhe,
taxistas,
taxistas simpáticos,
tony de matos
Velhas ao ataque
Hordas de velhos, é o que encontro cada vez que preciso de ir à agência da Caixa mais próxima de mim. Além de dois ou três funcionários distribuídos pelo balcão de atendimento corriqueiro e pelo de créditos & afins, há um moço que, de pé numa espécie de ilha para a qual não se tiram senhas, trata dos «outros assuntos». Novo e expedito, é o favorito das velhotas.
Na mesma fila para a mesma «ilha», outra mulher queixava-se de problemas domésticos. «Bati com a cabeça na parede, sem querer. Ia morrendo», diz a certa altura, espectacularmente alto mas de forma casual, como quem conta mais uma banalidade do dia-a-dia. Uma outra protagonista da Manhã no Banco decide passar à frente de toda a gente na fila e, quando chamada à atenção, grita, agressiva: «Mas eu tenho uma criança deficiente sozinha em casa!». O predilecto das velhas acede a atendê-la, provavelmente para evitar mais escândalos.
Não vim embora sem 1) ser atendida pelo bebé das velhotas 2) uma senhora menos idosa, mas com vago ar de quem tinha andado na pinga me pedir, muito risonha, que lhe lesse os números da conta que se preparava para pagar. «Esqueci-me dos óculos em casa e não vejo nada!». Lá contribuí para que a mulher pagasse as suas dívidas à Zon, não sem alguns percalços: enganou-se numa data de números e queria carregar no verde antes de confirmarmos os números todos, para minha aflição. E risadas dela.
Esta manhã, uma destas senhoras esperava a sua vez de falar com o «jovem», não na fila, mas de pé ao lado dele. Convidada a colocar-se na fila, exclama: «Mas eu gosto de estar ao pé de ti, amor!». Nem de propósito, o «amor» acha que esta é uma boa altura para ir buscar um papel qualquer e ser, temporariamente, substituído por uma colega. A velha não desarma: passando a mão pelo braço da funcionária, exalta: «Foi esta a menina que me atendeu ontem!». «Não fui eu, não», corrige logo ela (por estas e por outras é que as velhas preferem os moços).
Na mesma fila para a mesma «ilha», outra mulher queixava-se de problemas domésticos. «Bati com a cabeça na parede, sem querer. Ia morrendo», diz a certa altura, espectacularmente alto mas de forma casual, como quem conta mais uma banalidade do dia-a-dia. Uma outra protagonista da Manhã no Banco decide passar à frente de toda a gente na fila e, quando chamada à atenção, grita, agressiva: «Mas eu tenho uma criança deficiente sozinha em casa!». O predilecto das velhas acede a atendê-la, provavelmente para evitar mais escândalos.
Penso que foi esta mesma assanhada senhora que, mais tarde, ouvi discutir ao telefone com a senhoria. «Vou ser curta e grossa», ameaçou. «Então por que diabo aluga o quarto? Você já não tem é tempo para o dinheiro que tem!» (tirada genial que me obrigarei a usar mal se proporcione).
Não vim embora sem 1) ser atendida pelo bebé das velhotas 2) uma senhora menos idosa, mas com vago ar de quem tinha andado na pinga me pedir, muito risonha, que lhe lesse os números da conta que se preparava para pagar. «Esqueci-me dos óculos em casa e não vejo nada!». Lá contribuí para que a mulher pagasse as suas dívidas à Zon, não sem alguns percalços: enganou-se numa data de números e queria carregar no verde antes de confirmarmos os números todos, para minha aflição. E risadas dela.
Maconde & Super Confex
O taxista desta noite definia-se como «fotógrafo e entertainer». Antes da fotografia, o senhor de voz rouca à La Féria trabalhou 10 anos como inspector do Círculos dos Leitores, mas nos anos 90 - «ou 80?» - também desenhou o «lougoutipo» para a Maconde e a Super Confex, aquando de um relançamento que implicou «fanfarra» durante não sei quantos dias. Eu juro que não lhes pergunto nada.
(Dezembro 2010)
(Dezembro 2010)
Indivíduos encapuçados
Esta noite, no regresso a casa, o comboio ficou parado alguns minutos na Cruz Quebrada. De acordo com o revisor da CP, que apareceu quando pela carruagem começou a espalhar-se um intenso cheiro a cola (?), na plataforma estavam «seis indivíduos encapuçados e armados com barras de ferro», que acharam que aquele era um bom momento para pintar as carruagens com spray. Felizmente não eram 22h22, ou ainda lá estava.
Música, maestro
Uns 20 minutos exposta a isto a que chamam «frio», esperando pelo autocarro, na solitária companhia de uma velhota que não se calava um momento (e em cujo discurso apenas se percebiam os números das carreiras ansiadas). Julguei ter ido parar ao inferno, e descoberto que este, afinal, é frio. Até que chega, realmente, o autocarro. Entro na viatura e de imediato ouço, bem altinho, «She's a maniaaac, maniiiaaac...» - música que me lembra sempre o Groundskeeper Willy, dos Simpsons - mas a penitência estava longe de terminar. Trânsito «compacto», como dizem nas notícias, permitiu-me fazer o trajecto entre Praça de Espanha e Sete Rios nuns amáveis 20 minutos de pára arranca (mais pára do que arranca). Durante esse tempo, alguns passageiros dançaram ao som da música que ouviam nos phones, outros escolheram cantar alto «Foreeever youuung...», que passava na mesma estação do «Maniac», e um casal de moças desatou aos beijos durante «O Amor», dos Heróis do Mar. Antes de chegar ao meu destino, ainda ouvi uns guiques que iam a um jantar de aniversário numa churrasqueira desabafar que «agora é que o Sweeney [?] fazia jeito, ele tem sempre as bolachinhas da princeesa».
(Dezembro 2010)
(Dezembro 2010)
Do frio
E a primeira coisa que ouço quando saio de casa nesta bela sexta-feira de gelo é: «Os velhos vêm para a rua e morrem com o frio!». Depois riu-se para mim, a velhota. Na camioneta, uma rapariga exclamava, ao telemóvel: «A paixão é uma loucura! como diz aquela música, 'quando danço contigo, uô uôô, o amor faz sentido'». Ia para Oeiras, ela, porque ontem a tia deu-lhe «três euros» para o comboio.
Natal num táxi
«Barata?», atende, intrigado, o taxista a meio da viagem. «Ah, João! Desculpa, não estava a ver! Como estás?». Seguem-se as primeiras palavras que ouvi ao severo motorista desde o «bom dia» de quando cheguei à praça e me pegou na mala. Depois de uma tarde a fazer conversa no cabeleireiro, o silêncio do taxista - coisa tão contra-natura no seu ofício - estava quase a incomodar-me. Avenidas fora, rumo a Santa Apolónia, só uma reportagem interminável da TSF sobre alfarrabistas de Coimbra enchia o carro de som, até ao telefonema do tal Barata. João. Queria saber como estava este nosso amigo, da última vez achara-o muito «em baixo». «Fui-me um bocado abaixo, fui», confirma o taxista, sempre parco em palavras. «Só hoje voltei ao trabalho». Percebi que algo de mauzito lhe teria acontecido mas o pudor de comentá-lo frente a um cliente falou mais alto. «Estou num serviço, sim», corroborou (justificou?) mais uma vez, antes da despedida afável com um «prazer em ouvir-te!» e desejos de feliz natal.
Antes, uma das empregadas mais amorosas do meu «café do costume» tomara o pequeno-almoço na mesa ao lado da minha sem dar pela minha presença, olhos rasos de lágrimas e gestos nervosos a comprometer a segurança do prato da torradinha. Com vergonha de inquirir o que se passava, limitei-me a desejar-lhe boas festas.
Chegada à estação, entre os pombos sujos e o cheiro a croissants, alguns sem-abrigos e dementes de vária ordem montavam o seu teatrinho. Um falava para o ar, mas parecia tanto que se dirigia a mim que um homem fardado me veio perguntar se estava tudo bem. Anuí, mas mesmo assim o segurança foi dar duas palavras ao palavroso homem. Quando troquei a sala de espera pelo comboio, arrastando a mala prenha de prendas, ainda o ouvi balbuciar, entre outros dizeres incompreensíveis: «os padres deviam ser castrados!» e «quantas pessoas não comeram à custa da igreja».
(Dezembro 2010)
(Dezembro 2010)
Mafamude, meu amor
«Ruuuua! Rua, que o senhor que chegou gosta desse cantinho!», ordena a frenética empregada de mesa de um minúsculo café em Gaia, para um cliente menos afortunado. Mafamude sabe receber.
Clássicos de Natal
Algumas frases bonitas de um Natal que ainda não acabou: «Se já comi? Eu como de véspera!» (Tia Glorinda); «Morreu pouca gente!» (o desconsolo do meu Tio Zé ao consultar o único diário publicado a 25 de Dezembro, o JN, e sua mítica necrologia).
(Dezembro 2010)
(Dezembro 2010)
As estatísticas provam
«80% das mulheres são muito porcas», quis a senhora da limpeza dizer-me acerca do estado dos wcs, aqui no trabalho.
Vááácinas
Ao saber a minha profissão, a médica do trabalho recomendou que tomasse a vacina do tétano.
Cebola massacrada
«Para perceber se está em condições, deve ver-se através da cabeça se está massacrada por dentro ou não». Isto é a Filipa Vacondeus a falar sobre escolher cebolas na Time Out, mas podia aplicar-se às pessoas, também.
Resmas de notas
A preguiça que deu à jornalista da RTP a meio da notícia: «Foi lá que a polícia encontrou droga no valor de muito dinheiro»
Preço Certo
Velhota para mim na paragem: "Há aqui um Preço Certo?". Desculpe? "Um Preço Certo". Enquanto imagino o Fernando Mendes a fazer o programa directamente da Estrada de Benfica, ela ajuda: "Preço Certo, o supermercado". Supermercado tem ali um Pingo Doce, respondo eu. "Isso, Pingo Doce".
Amor e sangue
Esta manhã, na
inestimável estação de Algés, um homem apontava o telemóvel ao penso/curativo
que tinha no pescoço. Julguei que tirasse uma foto à sua própria ferida, mas
pelos vistos estaria mesmo a filmá-la, pois depois olhou para a câmara do
telefone e disse: «Amo-te!».
(Outubro 2010)
(Outubro 2010)
Manifesto fecal
Esta manhã, uma moça, um barbudo e um velho careca de boné, a quem a moça tinha de dizer como levar a bandeira, «para não acertar em ninguém», deram-me um panfleto «anti-capitalista» apelando à destruição dos meios de produção e argumentando que aderir à greve estava longe de resolver o que quer que fosse. Estava assinado como «Grupo dos 3» e tinha nesta frase sublinhada (por mim) o grande momento.
Subscrever:
Mensagens (Atom)